Memórias do Fecbook!

Memórias do Fecbook!

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Hoje o Facebook trouxe-me esta memória e logo um sem-número de coisas me vieram à cabeça para aqui vos escrever. Ando cansada, pouco inspirada. A ver se me sai por palavras o que agora me ocorre em mente…

Tenho feito algumas lives onde partilho algum do meu saber no que toca a truques e dicas para fazer compotas, alguns desses directos ficam disponíveis aqui na página. Desse lado, tenho cerca de 70 pessoas a assistir. Entre elas, sei e digo-o, estão pessoas às quais sirvo de inspiração para criar um negócio semelhante ou até igual ao meu. É, essencialmente, a essas pessoas que me dirijo nesta publicação.

A foto da publicação é de péssima qualidade, o meu telemóvel na época era muito fraco e eu uma verdadeira nulidade a tirar fotografias. Os frascos de doce estavam totalmente ilegais: só tinham o nome do doce e uma imagem do fruto, sem lote, sem data de validade, sem lista de ingredientes, sem indicação do produtor, nem valores calóricos médios (obrigação legal após 12/2016), etc., etc. A foto é de uma banca num mercado de rua em Braga, onde dividi o espaço com a minha amiga Ana, que vendia os panos de cozinha.

A imagem é de 02/2013. Eu não estava desempregada, era professora ainda contratada. Fui ali tentar ganhar um dinheirinho extra. Desde essa época, perdi a conta às pessoas que também assim começaram, alguns com uma banca como esta. E porque é que eu ainda aqui estou?!

Um dia escrevo um livro (daqueles a sério) e para esta questão talvez dedique algumas páginas. De forma breve, respondo que ainda aqui estou porque nunca dependi destes rendimentos para sobreviver. Aliás, anos houve que a minha marca cresceu pelo investimento que a minha actividade principal me permitiu fazer. 

Estou aqui porque não sei apenas ler e escrever, sei também interpretar e produzir conteúdo. Fazer bons doces e licores já as nossas avós os sabiam fazer. Esta roda já foi inventada há muito. Mas vendê-los?!  As leis existem para nos salvaguardar, não são entraves. Aqueles que discordam devem mudar de rumo porque vão/estão a brincar aos não-negócios. Tenho duas licenciaturas, uma pós-graduação, uma vontade incessante por aprender e estudar mais, um enorme gosto pelo que faço e o raio da falta-de-tempo que me consome!

“Fazer doces bons, bonitos, legais e vendê-los” não é para todos. É para quem teima em percorrer um caminho longo e sinuoso, que começa com uma foto destas. Vá, esta regra aplica-se não apenas à produção e venda de doces, é a tudo. Se houver por aí algum negócio (honesto) mais fácil, por favor, digam-me que eu queria muito ficar rica depressa. É que eu jogo todas as semanas no Euromilhões e só perco dinheiro!

O modelo de negócio criado “a partir da comodidade do nosso lar, sem grande investimento e para venda na internet” ofusca muita gente, não existe, menos ainda no imediato.  

Eu própria desenvolvi a imagem da minha marca, legalizei a produção, concebi a rotulagem e o packaging em conformidade com a lei, desenvolvi o website (já na sua terceira versão), faço a gestão das redes sociais, participo em eventos de divulgação e venda e… sei lá mais o quê, que agora não me ocorre. Se fiz ou faço tudo bem?! Não fiz, vou fazendo e remendando aqui e ali. Contudo, não tive de pagar por esses serviços ou careci da ajuda de alguém para os fazer. O feito é sempre melhor que o perfeito.

E a ilusão de ter um site e vender (muito) online? Quem não tem aquele “primo que faz sites”?! Abaixo de 1000€ mandem o primo passear. Acima de 1000€ mandem os primos e os não-primos também passear! Um site bem feito, que eu ainda não tenho, note-se, custa MESMO muito dinheiro (o tal eterno trabalho de SEO, entre outros quês). Depois, os visitantes só chegam ao nosso website com um grande investimento em marketing, actividade que não se entrega, também, a nenhum primo! No universo do tio Zuckerberg (o dono disto tudo!) a publicidade é sempre cara, seja bem ou mal feita. Tenho a minha pós-graduação em Marketing Digital e sou apenas uma aprendiza, é o que vos digo.

À parte disso, uma palete de frascos tem cerca de 2500 unidades, de garrafas são 1600, o preço de uma palete discute-se às paletes por ano; uma bobine de rótulos tem, no mínimo, 500 rótulos (500 frentes + 500 versos), o número de bobines define um bom preço e a execução ou não do pedido; uma caixa de cartão para envio/presente só é aceite para produção com um mínimo de 500 unidades, acima das 1500 discute-se o seu preço ao cêntimo; temos de ter vários modelos e tamanhos de caixas, os moldes/cortantes à nossa medida pagam-se; etc.

Uma marca deste segmento não se faz com meia dúzia de produtos, são necessárias muitas experiências, falhas e fracassos. 

Uma marca cresce apenas se todos os dias lhe juntarmos uma história real e vivida e se, com isso, conquistarmos uma tribo.

Nos meus directos aqui do Facebook disponho-me a ajudar e mostro-me disponível para esclarecer quaisquer questões que possam surgir. Faço-o de bom grado, dou-me muito bem até com os meus “concorrentes”, há espaço para todos. Hoje, vi esta foto e pensei em 2 pessoas que me contactaram pelo WhatsApp. Interpelaram-me, directa e especificamente, sobre os fornecedores dos meus modelos de frasco e de garrafa. Eu sei que tenho umas embalagens bonitas, porque foram muito pensadas… Mas será que perceberam, com este meu relambório, que isso não basta para iniciar este negócio?! Be yourself, be you.

Comecei em 2012, há quase uma década, vou sobrevivendo. Nunca deixarei o Ensino. No ano passado, a Rita entrou no quadro da minha microempresa. Estou mais liberta de muitas tarefas, mas a luta passou a ser acrescida doutras responsabilidades: chegar ao final do mês pagar o seu salário, as obrigações fiscais, etc. para, pelo menos ao final do ano, conseguir obter um saldo positivo. 

Mais positivo tem de ser sempre o pensamento! 2022 vai ser um ano de mudanças e, um dia, vou precisar de mais uma Rita!... até lá, terei de continuar a jogar no Euromilhões que de rica, sou só uma rica-peça! 

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